quinta-feira, 28 de julho de 2011

Saudades

Nossa quanta saudades estou sentindo dele hoje , faz tempo que eu não sentia uma saudade tão forte tão apertada, a saudade de perder um filho é tão estranha tão diferente, as vezes sinto como se ele esta bem, que ele não sente minha falta e que a vida mesmo após a morte continua firme e forte e que a evolução se faz presente sem precisar de mim ,e ai eu como  mãe me sinto calma, tranqüila, por que acho que a saudade só vem do meu lado .
 
E as vezes me sinto como eu estou desde ontem  , essa saudade não tem barreiras ela parece vir de ambos os lados , como se ele também sentisse a mesma saudade;
 é como aquela ligação que a gente tem com o bebê dentro da barriga a gente não o vê mas sabe que ele esta ali , sabe o que ele sente , se a gente esta bem o bebê esta bem ,se a gente esta triste o bebê também esta triste, é mais ou menos assim que eu me sinto com se ele sentisse a tristeza que sinto mas ele não me passa tristeza ,e sim tranqüilidade , emoção é um simples sentimento como se ele quisera impor sua presença.
 Ontem quando fui no hospital por que estava com dores e sangramentos , na minha frente havia um menino moreno com o cabelinho do Neimar , o menino não tinha nada dele e ao mesmo tempo era tão igual , é engraçado como vejo ele em todos os meninos que aparentam ter seis anos, sem me importar com a cor ou o tipo físico, em todos , em todos eu o vejo, a criança estava sentada na minha frente vendo o jogo (coisa que o Iuri adorava mesmo sem tem o incentivo do Daniel que odeia futebol )  ai o menino foi ao banheiro e ficou trancado ( risos) quando ele começou a chamar pela mãe não teve como eu não me emocionar aquela voz pequena, frágil , com medo, era tão igual , abriu-me feridas que já me haviam cicatrizado, e ai a mãe abriu a porta e ele deu um abraço tão forte que eu mesma o pude sentir , abraço esse que eu espero a tanto tempo (lágrimas) eu já não pude me conter e chorei ali mesmo , me senti tão pequena, tão perdida , senti que aquela mãe mesmo sem saber tinha tanta sorte , senti um inveja tão grande de não poder ter aquilo que as pessoas acham tão comum , tão sem importância é apenas um abraço, não sabe aquela mãe que abraços são pérolas preciosas ,que quando temos não damos valor , porem quando perdermos descobrimos o quão caras elas são  , quando olhei para os pés dele , ele estava de sandálias e de meias , o Iuri adorava usar sandálias e meias , logo fui atendida e mais tarde fui embora sem mais ver o menino, mas ele me deixou com um sensação como se o
Iuri estava presente  , me senti novamente inteira, viva , já perdi as contas de quantas vezes orei a Deus para não me sentir assim novamente mas ele insiste em me colocar nessas situações , isso é como uma droga que você usa e quer se livrar, a sensação é essa . É boa mas quando acaba o efeito você se sente um lixo , impotente, se importância, essa sensação momentânea eu não quero sentir prefiro ficar  “ limpa” , ser como eu sou, acho que a minha dor já é grande o bastante para ter esse encontros que só me trazem lembraças que eu procuro esquecer como uma forma de amenizar , as pessoas podem me achar fraca ou egoísta ,devem pensar como uma mãe não quer ter lembranças de um filho tão lindo ,tão querido , mas somente quem está na minha pele sabe como é difícil lembrar de momentos felizes , é uma dor imensa, é como abrir uma ferida que levou um tempão para fechar .
A cada dia procuro não me lembrar de momentos que não saem da minha memória , está gravado em mim, não tem como apagar, as vezes penso que ele só existiu em meus pensamentos , com um sonho, uma miragem , é mais fácil de encarar a vida assim, mas quando a realidade bate de frente e eu tenho certeza de que ele esteve aqui , é ai que eu me sinto a mais infeliz das mulheres , é como se você tem uma missão e a deixou pela metade , as pessoas até tentam me animar e me colocar pra cima , me dizem coisas como : ele é um anjo agora ou você é muito forte , é uma guerreira.
É engraçado por que ninguém me perguntou o que eu queria ser , se eu gostaria de ser forte, ou e eu gostaria de ser guerreira , ou se eu simplesmente  gostaria de ser mãe , sem dúvidas eu responderia ser mãe  , acho até que essa ultima pra muitos não é muito interessante , já que ser forte ou guerreira pode nos trazer estatus, mas ser mãe pra mim seria o suficiente , não que eu não seja mãe tenho outros dois filhos mais novos que ele, mas não sou uma mãe completa , pois mesmo nos momentos de maior felicidade a tristeza ainda se faz presente em meu ser, jamais serei completa novamente ,isso dói muito é como ser mutilado sem ao menos esperar , ainda assim agradeço a Deus por meu filho ter partido da forma que partiu acho que foi o meio menos doloroso que Deus encontrou para tira-lo de mim , não suportaria ver meu filho uma criança tão linda padecer de uma doença por exemplo, acho que é muito triste ver um filho definhar ,tentar ajudar, dar-lhes esperanças, fazer-lhes sorrir para depois olhar para ele e ver o quanto se enganou e o quanto o enganou em momentos em que ele sentirá dor,   muitos dizem que ser mãe é uma dádiva , mas quem o diz com certeza não perdeu um filho , acho que finalmente pude expressar meus sentimentos por esse dia, espero sinceramente não mais passar por isso que passei ontem, mesmo sabendo que eu passarei por muitas vezes , continuarei a orar a Deus e a ficar furiosa com ele em momentos assim , sei também que ele vai me perdoar pois sabe ele que não o faço de coração ...
Fica também aqui registrado o meu abraço , um beijinho em cada olhinho e um selinho ao meu pequeno Iuri , era assim que fazíamos em vida , e é assim que me despeço dele hoje e sempre ....
Sua Mãe!

Um comentário:

  1. Eu sei como isso é difícil, eu também lembro do meu filho em cada adolescente que se veste como ele se vestia,nos lugares que ele cruzava, enfim e é tudo muito dolorido.Dia 13 deste mês faz 3 anos já.Já tive sonhos muito significativos com ele que me deixaram mais tranquila e feliz ao acordar.
    É duro mas temos que seguir sem eles(fisicamente).

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